A Paixão do Senhor: A oração no horto

O Senhor forneceu um excelente exemplo do que devemos fazer quando estamos tristes: recorrer à oração. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo, e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-à (Mt 6, 6). Como tinha ensinado, afastou deles à distância de um tiro de pedra (Lc 22, 41), prostrou-se com a face por terra e orava (Me 14, 35): Pai, meu Pai . . . Começou a consolar-se com o Pai, o mesmo que o enviava para a morte. Obedecia como Filho, mas ao contrário de Isaac, seus olhos estavam abertos. Ensinou-nos a chamar Deus de Pai, mesmo quando parece que nos castiga.

Meu Pai, se é possível (Mt 26, 39), se é do teu agrado afasta de mim este cálice! (Lc 22, 42). Suplicava para não beber do cálice amargo: Eu não quero nada que Tu não queiras; porém, se Tu queres, se é possível, faz que não beba este cálice. Sentir aversão perante a dor e querer evitá-la não diminui o mérito, pelo contrário, aumenta quando se conforma com a vontade de Deus. Jesus mostrou uma aversão natural ante a dor – Afasta de mim, este cálice ­– mas acrescentou: Se é possível, se Tu queres. Assim Cristo submete-se e abraça a vontade do Pai: Todavia não se faça o que quero, mas sim o que tu queres ( Mt 26, 39).

Quem pede é o Filho Unigênito de Deus, no qual seu Pai tinha posto todas as complacências. Aquele que tudo pode, com serenidade e respeito, pede apenas que o livre de uma morte cruel que não merece, mas que aceita completamente a vontade do Pai.

O Senhor ensina como orar ao Pai: Que não se faça como eu quero, mas como Tu queres.

Jesus levantou e se aproximou dos discípulos. Estavam todos adormecidos pelo cansaço, acordou-os para que estivessem vigilantes perante o encontro que se aguardava. Sabia que Judas estava bem acordado e realizando sua traição naquele momento. Entristeceu-se ao ver os apóstolos entorpecidos pela preguiça, principalmente com Pedro, que tinha prometido segui-lo até a morte.

A ele dirigiu estas palavras: Pedro, tu também dormes? Não pudeste vigiar uma hora! (Me 14, 37). Dizia que me seguiria na prisão e morreria por Mim. E agora que preciso de sua companhia, não consegue ficar acordado comigo nem por um breve momento? Não percebe que Eu precisava descansar um pouco, enquanto você devia ficar acordado para me defender? Pedro ficou emudecido.

O Senhor voltou-se aos outros, que tinham imitado a Pedro, tanto na presunção como na preguiça, e disse-lhes: Vigiai e orai, por mim e por vós, para que não entreis em tentação. Não se descuidem e não confiem nas boas intenções; fiquem firmes em oração, mesmo com o espírito pronto para padecer a carne é fraca.

Imediatamente o Senhor colocou em prática aquilo que acabara de ensinar. Voltou a afastar-se dos discípulos para renovar sua oração: Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade (Mt 26, 42).

Novamente voltou, preocupado com a fraqueza dos apóstolos, e outra vez os encontrou adormecidos. Como eram preguiçosos em rezar, demonstravam como seriam fracos na ação. Desta vez o Senhor não disse nada, talvez para não os afligir mais ainda; tinha-os repreendido uma vez, não queria embaraçá-los novamente. A vergonha era tamanha que não sabiam o que dizer. Também nós não sabemos o que responder ao Senhor pela pouca companhia que fazemos na sua Paixão. Ficamos com os olhos pesados, com sono, de tanto olhar para o que nos afasta de Deus.

Novamente os deixou e pela terceira vez foi orar; pronunciou as mesmas palavras. Quando estamos tristes e oprimidos não são necessárias palavras novas para dirigir preces a Deus; bastam as mesmas, repetidas vezes, para que o Senhor escute.

Persevera na oração, bate a porta que ela se abrirá.

A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.

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