A Paixão do Senhor: Pilatos novamente julga Jesus inocente

Cristo perante Pôncio Pilatos [detalhe], 1881, Por Mihály Munkácsy, atualmente no Museu d'Orsay, em Paris, domínio público, Wikimedia Commons

Levaram-no de volta do palácio de Herodes ao pretório. Tudo outra vez, os mesmos criados e soldados, os mesmos ruídos e injúrias pelas ruas. As únicas novidades eram os escárnios que Herodes tinha feito e a túnica branca que Jesus vestia e despertava muita curiosidade.

Acontece muito com as pessoas medíocres: vestem a roupagem mais adequada para cada situação. Escondem o vício com aspecto de virtude; a mentira com roupagem de sabedoria; a vingança é considerada justiça. Ao contrário desnudam as virtudes; o pudor é chamado de vaidade; a modéstia de timidez; a devoção de loucura; a verdade de hipocrisia. Assim, Herodes vestiu uma roupa de rei, para ridicularizar o Senhor.

A Virgem Maria ficava sabendo aos poucos de todos os acontecimentos. Não podemos imaginar o que sentiu no seu coração quando tomou conhecimento que Jesus estava com aquela roupa.

Voltando ao pretório, Pilatos ficou sabendo que Herodes também não encontrou nenhum motivo para condená-lo. Para afastar a desconfiança de que tivesse atuado com excessiva brandura, convocou então os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e o povo (Lc 23, 13), voltando a examinar a causa perante todos, mas não encontrando nada realmente grave disse: Vocês me apresentaram este homem como um subversor do povo, mas interrogando-o, não encontrei nele nenhuma culpa. Nem mesmo Herodes, que conhece a crença e lei de vocês, encontrou algo para levá-lo a morte, sendo assim não cometeu nenhum crime contra Roma ou contra a lei. Por isso, soltá-lo-ei depois de o castigar (Lc 23, 16).

Ao perceberem que Pilatos estava decidido a libertá-lo, ficaram perturbados com a ideia de ter Jesus novamente contra eles; conheciam a força de suas palavras ao ensinar e repreender; o poder de juntar o povo com seus milagres. Se continuasse vivo, perderiam a autoridade e o prestígio, por isso os sacerdotes continuaram a acusá-lo de muitas coisas.

Ele, porém nada respondia às acusações dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos (Mt 27, 12). Havia respondido o suficiente para Pilatos, mas perante as acusações dos sacerdotes calou-se, porque tudo era mentira e calúnia. A verdade era notória e já tinha falado na noite anterior perante Caifás: Se eu vo-lo disser, não me acreditareis (Lc 22, 67). Porque me perguntas? Pergunta àqueles que ouviram o que lhes disse. Estes sabem o que ensinei (Jo 18, 21).

Santo Ambrósio comenta: O Senhor acusado, com razão fica calado, não necessita de defesa. Que procurem se defender os que temem ser vencidos. Ao se calar não concedeu, apenas teve pouca consideração pelas acusações e não se dignou refutá-las.

Surpreso com o silêncio, Pilatos perguntou: Não escuta todas as acusações que fazem? Jesus estava tão sereno que não demonstrava o menor sinal de preocupação, confirmando o salmo que diz: Eu, porém, sou como um surdo: não ouço; sou como um mudo que não abre os lábios (SI 37, 14). Pilatos perguntou outra vez: Nada respondes? Vê de quantos delitos te acusam! (Mc 15, 4). Mas, para grande admiração do governador; não quis responder nenhuma acusação (Mt 27, 14). Ficou espantado, pois não estava acostumado e achava estranho o silêncio. Os doutores da lei, conhecedores das Escrituras, não lembraram o que estava escrito a respeito: Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro (Is 53, 7).

A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.

Última atualização do artigo em 7 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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