Ensinai-me, Senhor, a pôr ao serviço do apostolado todos os talentos que recebi de Vós.
1 – Ao lado das virtudes naturais postas ao serviço da caridade apostólica, é necessário considerar também os outros valores humanos que permitem ao apóstolo impor-se no seu meio, não para fazer vale a sua pessoa, mas para fazer valer o ideal cristão. Dizer que o apóstolo, apesar da sua cultura e da sua capacidade, não pode nada sem o auxílio de Deus, não significa desprezar estes valores humanos, mas afirmar que, por si, são insuficientes para atingir o fim essencial do apostolado, isto é, a comunicação da graça às almas, fim que só a ação divina pode alcançar. Mas o que em si mesmo é insuficiente, pode, nas mãos de Deus, tornar-se um meio ótimo para o bem das almas. Também o pincel é incapaz de fazer por si mesmo alguma pintura, mas nas mãos de um hábil artista pode servir para executar grandes obras primas..
O apóstolo deve estar consciente da insuficiência radical dos seus dotes, dos seus talentos, mas ao mesmo tempo cultivar esses dotes, fazer frutificar esses talentos para os colocar à disposição de Deus para os fins do apostolado. É pois necessário que os apóstolos, juntamente com a vida interior, se cultivem intelectualmente; certamente que a santidade será sempre o elemento mais importante, mas se à santidade se une o conhecimento da doutrina, os resultados serão melhores. S.ta Teresa de Jesus é deste parecer, pois a propósito da direção espiritual, não duvida em afirmar: “É necessário que o diretor seja espiritual, mas se não for letrado, é um grande inconveniente” (Vi. 13, 19). Não só para a direção das almas, mas também para qualquer forma de apostolado, “a ciência é grande coisa para dar luz em tudo” (T.J. Cam. 5, 2); há meios onde é impossível penetrar sem uma cultura suficiente. O apóstolo tem, portanto, o dever de procurar adquirir uma preparação intelectual adequada ao apostolado que deve exercer; não se trata de ir à busca da ciência vã que ensoberbece, não se trata de cultivar a inteligência para ostentar os seus conhecimentos, mas de pôr ao serviço das almas todos os talentos recebidos de Deus. Sob o influxo vivificante da caridade, tudo – educação, cultura, doutrina, capacidade técnica, etc. – é transformado em meio de apostolado.
2 – Aqueles que são chamados a exercer o apostolado na sua vida profissional têm, mais do que os outros, o dever de cultivar a sua inteligência e de desenvolver as suas capacidades técnicas em relação com a sua profissão. Um professor que não prepara bem as lições, que não está atualizado, que não se dedica ao ensino com zelo, nunca poderá ter ascendente sobre os seus alunos, e qualquer iniciativa de apostolado que quisesse desenvolver entre eles estaria condenada ao fracasso. Só uma grande competência profissional pode dar ao católico essa autoridade que, ultrapassando os limites da sua profissão, atinge muitas vezes o campo moral e religioso, permitindo-lhe exercer uma influência eficaz sobre os que se aproximam dele; deste modo pode fazer um bem imenso, e por vezes a sua palavra poderá ser melhor recebida que a do sacerdote. Muito justificadamente Pio XII recomenda aos católicos leigos: “não sejam inferiores aos outros no valor científico e na competência profissional”, mas façam o possível por se tornarem “os melhores profissionais, os melhores juristas, literatos, médicos, engenheiros, etc.” (aos Licenciados Catól. 20-3-41); isto não por lucro, mas para adquirir um ascendente mais amplo e autorizado para os fins apostólicos. Em proporção da sua competência profissional, os católicos serão, com efeito, chamados a ocupar postos de comando na sociedade e assim poderão cooperar mais eficazmente na organização de um mundo civil em harmonia com os princípios evangélicos e, por isso, capaz de receber a graça divina.
Antes, pois, de se dedicar a outras formas de apostolado, o leigo deve pôr-se em condições de exercer perfeitamente as que são inerentes à sua vida profissional. Assim como a santidade deve ser procurada acima de tudo no cumprimento dos deveres do próprio estado, assim o apostolado deve ser desenvolvido sobretudo através do perfeito cumprimento dos deveres profissionais que são, precisamente, deveres de estado. Santificar-se no cumprimento do dever quotidiano, fazer-se apóstolo no cumprimento do dever profissional, deve ser o programa do leigo católico; programa prático e ao alcance de todos, mas que, no entanto, requer eminente espírito de sacrifício, de fé e de amor, a fim de transformar o pesado trabalho profissional em arma de apostolado. Mas a caridade apostólica pode muito; em nome de Deus tudo pode, “tudo sofre, tudo espera” (I Cor. 13, 7).
Colóquio – Senhor, não quero a ciência que ensoberbece, mas a ciência humilde que vem de Vós, que ilumina as inteligências e abrasa os corações.
“Sois Vós que ensinais a ciência aos homens, e que dais às criancinhas uma inteligência mais clara do que a que os homens poderiam ensinar. Se Vós me falais, depressa adquirirei a instrução e adiantarei rapidamente no caminho do espírito.
“Sois Vós, Senhor, que num momento levais a inteligência humilde a compreender mais dos segredos da verdade eterna do que em dez anos de estudo na escola. Vós ensinais sem ruído de palavras, sem mistura de opiniões, sem ostentação de honra, sem oposição de argumentos” (Imit. III, 43, 2 e 3).
Ó Senhor, dai-me esta ciência e então poderei entregar-me ao estudo e ao trabalho sem nenhum perigo de vanglória. A inteligência que Vós me destes quero empregá-la no Vosso serviço, quero fazê-la frutificar para Vossa glória e para bem das almas. Todos os talentos que de Vós recebi: inteligência, vontade, energias físicas e morais, devem ser usados com este objetivo, porque o apóstolo deve estar totalmente consagrado ao cumprimento da sua missão, sempre pronto para defender e glorificar o Vosso nome.
Santificai, Senhor, os meus estudos, o meu trabalho, o exercício da minha profissão; fazei que o amor transforme tudo em meio de apostolado.
“Lembrai-Vos, Senhor, de que me declarastes ter sido escolhida para Vos salvar almas. Ofereço-Vos pois a minha vida, agora e para sempre, tomai-a quando Vos aprouver; ofereço-Vo-la para Vossa glória, pedindo-Vos humildemente que, por virtude da Vossa Paixão, saneis e purifiqueis o Vosso povo” (S.ta Catarina de Sena).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico