A presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia

No meio de vós está quem vós não conheceis, disse joão batista aos judeus, indicando Jesus Cristo, que estava no meio deles, mas ainda desconhecido.

Pode-se dizer a mesma coisa de muitos católicos que parecem quase ignorar a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Ele está ali quase desconhecido… por aqueles que deviam visitá-lo, de vez em quando, invocá-lo e manifestar-lhe o seu amor.

Examinemos hoje este ponto do dogma católico que é a presença real de Jesus Cristo, provando a realidade, ou o fato desta presença:

  1. Pela TRADIÇÃO.
  2. Pela SAGRADA ESCRITURA.

I. A TRADIÇÃO

A realidade da presença real prova-se pela tradição unânime dos séculos e pela Sagrada Escritura.

A Igreja, desde o princípio, acreditou na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Basta citar umas autoridades dos primeiros séculos.

No século I – Santo Inácio († 107) discípulo de São João, profliga o erro dos docetas, “que se abstêm da Eucaristia, pregando ser ela a carne do Salvador”.

No século II – São Justino († 165) escreve ao imperador Antonino: Da mesma forma que Jesus Cristo, pela palavra de Deus, foi feito carne e sangue para a salvação nossa, assim sabemos que este alimento, sustentando nossa carne e nossa sangue, é a carne e o sangue deste Jesus encarnado.

No século III – Tertuliano († 240), diz: A carne se alimenta com o corpo e sangue de Cristo, para que a alma se fortifique de Deus.

No século IV – São Cirilo († 386), escreve: Debaixo da aparência do pão, Jesus Cristo nos dá o seu sangue; deste modo, tornando-nos: porta-Cristos, desde que recenemos seu corpo e seu sangue.

No século V – São João Crisóstomo († 407), fala ao povo de Antioquia: Podeis ver pessoalmente Jesus Cristo, e não ver apenas, mas comê-lo, tocar nEle e introduzi-lo em vosso peito. Todos nós que participamos deste corpo e bebemos deste sangue, não nos esqueçamos que esse que comemos é o mesmo que os anjos do céu adoram.

Basta destas citações; são sem réplica.

Encontram-se outras provas de tradição nas liturgias antigas, como, por exemplo, na de Antioquia, do II século, onde se lê: “Tendo nós tomado o precioso corpo e sangue de Cristo. damos graças”.

Outras provas ainda nos fornecem as práticas da Igreja primitiva, havendo a lei do segredo, acerca da Eucaristia, e a crença constante da Igreja, que nunca foi posta em dúvida, até aos sucessores de Lutero.

O próprio Lutero não teve ânimo para negar esta verdade, dizendo: É claro demais! Nimis apertus…

Ora, é impossível que uma tradição tão constante, tão positiva, e tão clara, seja falsa.

Logo, Jesus Cristo está realmente presente na Sagrada Eucaristia.

II. A SAGRADA ESCRITURA

É claro demais! Tal é bem a conclusão que se impõe, interrogando a Sagrada Escritura.

Podemos resumir estas provas em quatro categorias:

a) A promessa. A simples promessa é já um relâmpago.

É o discurso inteiro de Nosso Senhor (Jo. 6, 26-70) após a multiplicação dos pães: Vós me procurais, por causa do pão que eu vos dei, procurai, antes o pão do céu. (6, 27).

E qual é este pão?

Eu sou o pão da vida, descido do céu.
O pão que eu darei para a vida do mundo é a minha carne. Minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue verdadeira bebida. (6, 55).

Chega a repetir 5 vezes que “é preciso comer a sua carne e beber o seu sangue”, para poder possuir a vida. (6, 53-58).

b) A instituição. Na véspera da sua morte, Nosso Senhor cumpre o que havia anunciado.

Na última ceia, Jesus “tomou o pão, o benzeu e, partindo-o, o distribuiu a seus discípulos, dizendo: Tomai e comei: Isto é o meu corpo, que será entregue por vós.

Depois tomou o cálice, deu graças, e passou a eles, dizendo: Bebei dele todos, pois é o meu sangue, o sangue da aliança que será derramado por muitos para a remissão dos pecados”. (Mat. 25, 26-29; Marc. 14, 22-25; Luc. 22, 14-20; 1 Cor. 11, 23-25).

Jesus diz: Isto é meu corpo; isto é meu sangue, e não: Isto simboliza meu corpo, significa meu sangue.

O pão e o vinho, aliás, não são sinais adequados para representar o corpo e o sangue. É preciso tomar estas palavras “é meu corpo”, “é meu sangue” em sentido natural, literal.

c) As circunstâncias de pessoas e de tempo.

Os Apóstolos eram gente rude, singela, sem cultivo. Eram incapazes de compreender as sutilezas da linguagem metafórica.

Jesus estava na véspera da sua morte; deixando a Eucaristia como uma herança sagrada, não é, pois, o momento de dizer coisas ambíguas, que se prestem para interpretações duvidosas.

d) O testemunho de São Paulo, que é de uma clareza rude e incontestável: Quem comer este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. (I Cor. 11, 27).

Se este pão e o vinho consagrados não fossem o corpo e o sangue de Jesus Cristo, como poderia alguém, comendo-o indignamente, ser culpado do corpo e do sangue de Jesus Cristo?

É, pois, bem certo que Jesus Cristo está real, verdadeira e substancialmente presente na Sagrada Eucaristia.

III. CONCLUSÃO

A presença Eucarística de Jesus Cristo é o mais sublime e o mais assombroso dos mistérios, que exige de nossa parte um ato decidido de fé.

Um Deus, ocultando-se sob as humildes aparências de uma pequenina hóstia! É o resumo das maravilhas divinas. Memoriam fecit morabilium suorum. (Sal. 110, 4).

Um ato de gratidão e de amor devem seguir a este ato de fé, pois a Eucaristia é o grande mistério do amor. Sic enim Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daret. (Jo. 3, 16).

Mostremos este amor pelas visitas ao Santíssimo Sacramento e pela recepção da Sagrada Comunhão.

Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.

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