Santa Marta

Santa Marta de que o Evan­gelho em diversos lugares faz menção, era filha de uma família distinta e rica. Quem lê com atenção a ressurreição de Lázaro, deve convencer-se de ter sido, esta uma das mais consideráveis da terra de Judá. Marta era assídua na prática de boas obras, principalmente no serviço da caridade. Do sexo feminino foi uma das primeiras pessoas que, movidas pela doutrina, pelo exemplo e pelos milagres de Nosso Senhor, chegaram ao conhecimento do Messias. Desde a hora da conversão, foi Marta uma das discípulas mais dedicadas de Nosso Senhor. É mais que provável que, pela palavra convencedora, pelo exemplo e as orações, extraordinariamente concorresse para a conversão da irmã Maria Madalena. Mais de uma vez teve a honra e a grande satisfação de hospedar a Nosso Senhor em sua casa. Quando isto se dava, Marta se expedia em tornar agradável a Jesus Cristo a estadia no lar desses dedicados amigos. Aconteceu uma vez que, vendo Marta a irmã Maria permanecer aos pés do Divino Mestre, sem se incomodar com os serviços de casa, mas toda absorta nas contemplações dos divinos conselhos, que lhe vinham dos lábios do querido Hóspede, um tanto queixosa se dirigia a Nosso Senhor, dizendo-lhe: “Senhor, não vedes que minha irmã me deixa só, com todo o serviço? Dizei-lhe que me ajude”. Jesus Cristo, porém, de um modo muito delicado lhe respondeu, não sem lhe dar um aviso salutar: “Marta, Marta, tu te inquietas e te cansas com muita coisa, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.

Pouco antes da Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo, adoeceu gravemente Lázaro, irmão de Marta e Maria. Estas enviaram logo um mensageiro ao Mestre, avisando-o da enfermidade do amigo: “Senhor, aquele a quem amais, está doente”. Só este recado lhes parecia bastante, para Nosso Senhor interromper as viagens e vir curar o doente. Jesus, porém, tendo em mente dar ao mundo uma prova mais clara de sua divindade, foi a Betânia só depois de se ter dado a morte e efetuado o enterro de Lázaro. Marta, ouvindo que o Mestre tinha chegado, foi-lhe ao encontro e disse-lhe: “Senhor, se tivésseis estado aqui, meu irmão não teria morrido. No entanto, sei que tudo que quiserdes pedir a Deus, mesmo agora, ele vo-lo concederá”. Jesus disse-lhe: “Teu , irmão ressuscitará”. Marta retorquiu: “Sim, bem sei que ele ressuscitará no último dia”. Jesus disse-lhe: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda mesmo morto, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês tudo isso?” Ela respondeu: “Sim, creio, que sois o Cristo, o Filho de Deus vivo, que viestes ao mundo”. Tendo dito isto, Marta entrou em casa e disse a Maria que Jesus tinha chegado. Esta se levantou pressurosa e foi-lhe ao encontro. O que mais se deu naquela ocasião, será contado na vida de S. Lázaro. Aqui basta dizer que Jesus, movido pela tristeza e pelas lágrimas das duas irmãs, chamou à vida o morto, que já tinha sido depositado no sepulcro, havia quatro dias. É fácil imaginar-se a alegria, a gratidão das irmãs para com Jesus, por ter-lhes dado esta prova de amizade.

Nada mais o Evangelho nos diz relativamente a Marta. É provável, entretanto, que tenha estado presente ao grande sacrifício de Jesus Cristo na cruz; que lhe tenha assistido ao enterro; que tenha sido testemunha ocular da gloriosa Ascensão, e com os Apóstolos tenha feito a primeira novena de Pentecostes.

Diz uma piedosa tradição, que aliás não unem em seu favor a certeza histórica, que, pela perseguição da Igreja em Jerusalém, obrigados a sair da Terra Santa, Marta, em companhia de Maria Madalena e Lázaro, teriam sido embarcados num navio velho, sem leme e timoneiro. O navio, sob a proteção de Deus, teria aportado a Marselha. Perto de Marselha teria Marta, em companhia de muitas donzelas cristãs, vivido uma vida santa durante trinta anos, até que Nosso Senhor a chamou aos eternos tabernáculos. O corpo de Santa Marta foi descoberto em Tarascon, no século 13.

REFLEXÕES

O fato de ter hospedado e servido a Nosso Senhor faz de Marta uma das personagens bíblicas mais simpáticas. Sempre pronta para receber o Divino Mestre em sua casa e dispensar-lhe todos os cuidados, foi por ele distinguida com a mais santa das amizades. Quantas vezes não recebes a Jesus na Santa Comunhão. Não é o mesmo Jesus da Betânia? Com que disposições o recebes? São idênticas às de Marta? Com que prazer será que Jesus entra em tua Betânia? Não deves fazer tudo para tornar a Nosso Senhor agradabilíssima sua morada em teu cora­ção?

“Uma só coisa é necessária”, disse Nosso Senhor a Marta. Uma só coisa também nos é necessária: a salvação da nossa alma. Por causa desta nossa salvação Deus se fez homem, trabalhou, fez milagres, padeceu e morreu na cruz. Para salvar esta nossa alma, Deus nos concede tantas graças e favores. Da salvação da nossa alma depende a nossa eternidade. Que infelicidade, se cuidássemos de tudo, menos deste negócio mais urgente e necessário! Não estamos no mundo para ter uma vida cômoda e agradável. O nosso fim é servir e amar a Deus. Para Deus devem convergir todos os nossos trabalhos, penas, alegrias e sofrimentos. Devemos, como Maria, escolher a melhor parte, isto é, estar sempre aos pés do Mestre, ouvindo-lhe a doutrina, os conselhos, para depois tudo fazer por seu amor, em sua honra, para sua maior gloria.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Este texto foi útil para você? Compartilhe!

Deixe um comentário