MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO
DÉCIMO TERCEIRO DIA
As almas do purgatório nada podem merecer por si mesmas
MEDITAÇÃO
I. É cruel sofrer no mundo; mas há nele compensações que podem fazer aceitar o sofrimento com paciência e até fazê-lo desejar com ardor. Horroriza-se a natureza; mas o pensamento de que ajuda a encaminhar a perfeição e de que recebe no céu uma recompensa eterna, enchia de alegria os mártires, quando suportavam os tormentos das tenazes e nos cavaletes, e povoava os desertos de fervorosos solitários. Mas as dores do purgatório não são adoçadas por tais compensações; são unicamente o pagamento de uma dívida, e por assim dizer o sofrimento absoluto. Quanto são dignas de compaixão e alívio aquelas almas!
II. A virtude não nasce conosco; é necessário adquiri-la ; dispõe-nos a ela a natureza; mas é Deus quem nos dá o hábito de pratica-la; a graça faz-nos chegar e avançar nela, mas não a adquirimos senão pelos nossos atos, e quanto mais os multiplicamos, mais virtuosos e perfeitos nos tornamos. O trabalho do cristão consiste em aperfeiçoar-se tanto quanto é possível, pelo exercício das virtudes; mas esse exercício dura tanto quanto dura a vida. Com a morte, a perda da liberdade fecha a carreira do merecimento, e fica-se no estado em que se encontra a nossa alma na última hora. Que se sofra muito ou pouco, que se pratiquem ou não atos de virtudes, não se adquirem mais merecimentos na outra vida; assim, por desapiedados que sejam os castigos das almas do purgatório, por heroicos que possam ser os seus atos, a sua virtude não cresce mais nem os seus merecimentos aumentam. Apressemo-nos, pois, cristãos, a adquiri-los durante a vida e não deixemos passar um dia sem avançar na carreira da virtude.
III. Proporcionalmente ao progresso na virtude e aos merecimentos adquiridos na vida, sobe-se mais depressa ao paraíso e recebem-se mais graus de glória. Aquele que mais ganhar nesta vida, mais brilhará no céu, e nem uma ação, nem uma palavra, nem um desejo, ficarão sem recompensa.
Mas as almas do purgatório, não podendo crescer mais em merecimentos, não podem aumentar em glória; o seu estado é fixo, o seu lugar marcado. Que esta ideia, que torna o seu sofrer mais cruel, nos anime ao menos a trabalhar com mais solicitude e cuidado em prepararmo-nos um mais eleva do lugar no paraíso.
SÚPLICA
Dai-nos, Senhor, tempo e graça para fazermos na terra abundante colheita de boas obras, afim de que no céu obtenhamos junto a vós um lugar melhor; mas dignai-vos também de abrir as portas do paraíso às vossas esposas queridas, as almas do purgatório, e dai-lhes a posse dos tronos que na vida mereceram por suas obras.
Quebrai os laços, que as retêm cativas; perdoai-lhes todas as penas, que ainda têm de expiar nas chamas, e fazei com que, depois dos seus dolorosos tormentos naquela prisão, alcancem enfim de vossas mãos divinas a coroa de justiça e de glória, que lhes preparastes, como recompensa, na celeste Sião.
EXEMPLO
Consagrava S. Nicolau Tolentino uma grande devoção às almas do purgatório, e aquelas pelo seu lado tinham grande confiança na piedade do servo de Deus. Enviaram-lhe por isso fr. Peregrino d’Osimo, que fôra seu amigo durante a vida, para obterem dele muitos sufrágios. Apareceu-lhe em sonho aquela alma, ·e disse-lhe que estava no purgatório. “Vem, padre”, acrescentou, “e contempla as nossas misérias”. E conduziu-o à grande planície de Valmanente; foi esta planície vista pelo santo, coberta de chamas ardentes, no meio das quais inumerável quantidade de almas soltavam lamentosos gritos e imploraram o socorro por expressivos gestos. Vê, disse então o espírito, as penas das almas do purgatório, e atende a que elas se recomendam à tua misericórdia. Sofrem os mais atrozes tormentos que se podem imaginar, e não podem por maneira alguma socorrer a si mesmas; mas tu, pelo contrário, podes fazê-lo com facilidade oferecendo por elas orações e penitências e o Santo Sacrifício; peço-te que rezes por sua intenção a Missa dos defuntos, entregando-te também a outros exercícios de penitência, porque, se quiseres interceder por elas junto ao Senhor, não duvido de que despedaces as ardentes cadeias da maior parte e elas subirão ao céu. Despertando o santo a estas palavras, saltou da cama, prostrou-se por terra e, derramando uma torrente de lágrimas, ofereceu a Deus as mais ardentes súplicas por aqueles infelizes. No dia seguinte obteve do Prior do convento licença para celebrar pelas almas a santa Missa durante toda a semana, e fê-lo com tanto fervor, que, no último dia, veio fr. Peregrino agradecer-lhe a sua generosa caridade pela qual fôra, com muitas outras almas, livrado das penas e admitido no paraíso.
Também nós desejamos que por nossos sufrágios obtenham as almas do purgatório a liberdade e a glória; se queremos alcançar nosso fim, multipliquemos as boas obras e redobremos o fervor, porque, se imitarmos o exemplo de S. Nicolau, seremos atendidos como ele. (In vita S. Nicolai).
SUFRÁGIO
As orações e as santas conversas que se travam nos passeios e nas viagens, aproveitam às almas do purgatório, não menos aos que as praticam.
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O P. Luiz Monaci, clérigo menor regular, costumava santificar as suas viagens orando, e particularmente pelas almas do purgatório. Certa vez, ao atravessar, pela tarde, um vasto campo, aquelas almas, por quem, naquele momento, rezava o Rosário, apareceram sob humana forma e o livraram de celerados, que determinavam assassiná-lo para o roubarem. Ensina-nos este exemplo quanta vantagem nos pode resultar de empregarmos assim o tempo, durante as viagens; quer sós, quer acompanhados, não percamos nunca as horas do caminho ou de passeios em vãos pensamentos ou em práticas frívolas, mas entremeemo-las, ao menos de vez em quando, com algumas orações pelas almas do purgatório, as quais nos preservarão tanto mais dos perigos, quanto mais zelo tivermos em fazer-lhes obter o paraíso, objeto de todos os seus desejos. (P. Greg. Canfora, ex cler. Reg. min. in fortuna hominis, 1 lib. I, cap. 10).
O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.
