Catecismo do Matrimônio (Parte 2) – Capítulo 4: Da preparação para o casamento

Catecismo do Matrimônio (Parte 2)

Capítulo 4: Da preparação para o casamento

P. – Tendo reconhecido, pela reflexão e pela oração, que são chamados ao casamento e feito no tempo devido, conforme os princípios expostos no capítulo precedente, a sua escolha, como devem proceder esses dois jovens?

R. – Como pode haver entre duas pessoas, embora dotadas de excelentes qualidades, incompatibilidade de gênios, antipatias instintivas, repugnâncias invencíveis, o que será motivo quase certo de futuros agastamentos, choques, zangas e discórdias,… exige a prudência que os jovens destinados a viver lado a lado, de dia e de noite, e para toda a vida, não unam os seus destinos sem bem se conhecerem e estudarem. Daí a legitimidade das entrevistas anteriores ao casamento.

P. – Como proceder, para que elas não sejam perigosas?

R. – Que se realizem sob as vistas dos pais, e geralmente não longe deles; que sejam pouco frequentes; que os jovens evitem familiaridades pouco convenientes, em maneiras e palavras; finalmente “que, desconfiando deles próprios e do desejo, tanto mais perigoso quanto mais se aproxima a hora de se tornar legítimo, se mantenham mutuamente na reserva cheia de respeito que é o prelúdio e o fundamento dum amor duradouro.” Assim fala Mgr. Gibier no seu belo livro Désorganisation de la famille.

P. – E que resta fazer, quando estas entrevistas prudentes indicarem que os dois jovens se compreendem e amam realmente?

R. – Podem fazer a “promessa recíproca e séria de se desposarem um dia”. É nesta promessa que consistem essencialmente os esponsais.

Para evitar o perigo de surpresa, imprudência ou pecado, muito fácil de conceber na falta de testemunhas, a Igreja só tem como válidos os esponsais quando eles se fazem por escrito, assinados pelos noivos, pelo pároco (ou bispo), ou por duas outras testemunhas. Se os noivos, ou um deles não souberem ou não poderem escrever, esse fato deve ficar mencionado na ata escrita, juntando-se uma outra assinatura às já indicadas. – (Cân. 10, 7). Nestas condições, a promessa de casamento obriga em consciência, e só graves razões de ordem teológica podem fazer cessar a obrigação contraída.

P. – Que devem fazer os noivos até ao casamento?

R. – Devem mais do que nunca refletir nos grandes deveres do estado que vão tomar, esforçando-se por adquirir as virtudes que ele exige. Assim como, uma vez chegados á idade núbil, o jovem e a donzela se estudaram cuidadosamente, examinando se eram ou não chamados ao matrimônio, assim também, antes de darem o passo decisivo, terão a maior vantagem em relembrar, num retiro, a grandeza dos compromissos que vão contrair.

P. – E que devem fazer nos dias que precedem imediatamente o casamento?

R. – Quanto mais se aproxima o casamento, mais preciso se torna viver no recolhimento. É necessário, sobretudo, precaver-se contra a preocupação excessiva do enxoval, do trajo nupcial, da corbelha, do banquete, e da viagem de núpcias. Isto tudo só consiste o acessório, e não deve antepor-se ao principal, que é a recepção do sacramento.

P. – Não será preciso purificar a consciência antes de receber esse sacramento?

R. – Sim. O santo Concílio de Trento exorta os esposos a confessarem escrupulosamente os seus pecados antes de contraírem o seu matrimônio: Hortatur conjuges ut, antequam contrahant…, sua peccata diligenter confiteantur. (Sess. XXIV).

P. – Quais as razões de semelhante exortação?

R. – Por ser o casamento um sacramento da nova lei, do qual os nubentes só devem aproximar-se em estado de graça. recebê-lo em estado de pecado mortal é profaná-lo, e expor-se às maldições de Deus.

Se os futuros esposos se encontram em estado de pecado mortal, devem, portanto, a fim de evitar essa profanação e afastar de si essas maldições, purificar a sua consciência por meio duma confissão rigorosa, ou, pelo menos, por um ato de contrição perfeita e um propósito bem firme de viverem como bons cristãos na vida nova que não iniciar.

P. – É também exigido a comunhão antes do casamento?

R. – O Concílio de Trento não o impõe, como obrigação, àqueles que vão casar-se, mas exorta-os tanto a comungarem como a confessarem-se. Igual recomendação é feita, nos mesmos termos no novo Código. – “Que o pároco exorte com interesse os noivos a fazerem uma confissão séria e a receberem piedosamente a Sagrada Eucaristia antes da celebração do seu casamento.” (Cân. 1033).

De fato, os noivos sinceramente cristãos devem ter o maior empenho em aproximarem-se juntos da Sagrada Mesa, na véspera do seu casamento, a fim de alimentados com o Pão dos fortes, adquirirem as energias de que hão de necessitar para o integral cumprimento dos seus deveres imprescritíveis.

EXTRATO

“Nuptiae” – Deve o pudor preceder o casamento, diz S. Ambrósio, afim de, quando ele for contraído, o mesmo pudor o tornar ainda mais respeitável. Não é sem razão que se conta ter Rebeca, à sua chegada, descido logo o véu sobre a fronte ao ver Isaac, a passear, sabendo quem ele era. Ela nos ensina como o pudor deve preceder as bodas, porque as próprias bodas, nuptiae, são assim chamadas por as donzelas velarem a fronte por pudor.

Aprendei, pois, virgens cristãs, a conservardes a vossa pureza. Não vos é permitido, nem sequer na véspera do matrimônio, infringir as leis tão belas e sábias da reserva e da modéstia (Santo Ambrósio, de Abraham, 1. I. § 98).

Os perfumes misteriosos – O cristão prepara-se para o casamento por meio da aprendizagem das virtudes que um coração fiel deve praticar.

O seu amor é uma flor delicada e perfumada, da qual reserva, para uma festa única, o brilho, a graça e o aroma. ninguém o conhecerá, nem tocará, nem lhe respirará os misteriosos perfumes antes da virgem que deverá possuí-lo inteiramente. Dócil aos conselhos da sabedoria divina, não dá poder a mulher nenhuma sobre a sua alma. A sua modéstia, a sua reserva e os seus generosos esforços, permitem-lhe que não desperdice nada da sua honra e das suas forças, quando tantos desgraçados jovens têm sucumbido miseravelmente.

De Deus espera a companheira da sua vida, e quer merecê-la, porque a mulher prudente e sábia é a recompensa do justo por todo o bem que ele tem praticado. (P. Monsabré).

Continência e celibato – Numerosos sinais nos levam a crer que a campanha contra a despopulação ameaça transformar-se numa campanha contra o celibato, sem distinguir entre o celibato voluntário e o involuntário, entre o celibato por egoísmo e o celibato por dedicação.

Até à guerra, a cifra total dos celibatários nada tinha de inquietador em França. – Não era mais elevada do que noutros países…

Quando muito, podia assinalar-se uma mudança nos costumes da classe abastada; a concessão de muito mais liberdade às donzelas, cuja vida se tornava mais agradável, mais ocupada e mais interessante. Estavam aqui a causa e a consequência, simultaneamente, dum atraso na idade média do casamento. talvez também as donzelas aceitassem com mais facilidade do que antigamente a ideia de abraçarem uma profissão, mesmo quando dela não tivessem absoluta necessidade; e os pais do mesmo modo a acolhiam mais facilmente.

A guerra vai multiplicar os casos de celibato involuntário. Fazendo desaparecer muitos rapazes, condena muitas raparigas a ficarem solteiras. Por outro lado, uma necessidade imperiosa abre ás mulheres e às raparigas as profissões até aqui reservadas aos homens. A necessidade sobreviverá à guerra, e o hábito à necessidade. à crise da natalidade vieram juntar-se uma rajada de feminismo, circunstância pouco favorável ao casamento, e uma crise de nupcialidade. Será certamente um grande mal, mas, na medida em que resultar da falta absoluta de homens, e, sobretudo, da desproporção entre o número de homens e o das mulheres, um mal sem remédio, que poderá deplorar-se, mas será inútil combater. Quanto ao celibato voluntário egoísta, á velha negação pelo casamento, não há que defendê-lo; seria, porém, deplorável que, com o pretexto de o atacar, se atingisse também o celibato por dedicação, o qual é indispensável. Não falamos, apenas, em geral dos serviços sociais, que ele pode prestar; sem sairmos do assunto de que propriamente estamos tratando, seria dar mostras d’uma visão deplorável opor celibato a fecundidade, e denunciar um como inimigo da outra. É precisamente o contrário.

Ainda que a moral da Igreja coincide com o interesse social. A doutrina católica não contenta com recordar, mais energicamente do que ninguém, os princípios da moral conjugal natural que são comuns aos das outras confissões religiosas. Mais do que isso, possui a originalidade de glorificar a castidade e o celibato, complemento necessário que só a espíritos superficiais ou parciais poderá afigurar-se uma contradição. Com efeito, a vida coloca todos os dias os esposos numa situação que só admite três soluções: ou violar as leis do casamento, ou aceitar mais filhos do que aqueles que uma legítima prudência humana comporta ou, finalmente, praticar a continência. Repelida a primeira ela moral e a segunda pelo bom senso, resta apenas a terceira. A continência tem o seu lugar indispensável em toda a vida conjugal regrada. da energia com que a saibam praticar quando se torne preciso, depende a observância da moral conjugal, sem a qual, por outro lado, fatalmente baixará a natalidade. Esta energia exige uma longa disciplina de si mesmo. É muito tarde, em geral, para adquiri-la quando se toma a resolução de casar, e os que esperam pelo matrimônio para entrar no bom caminho arriscam-se a não fazer mais do que a substituir um vício por outro. A melhor preparação par ao casamento honesto é a vida honesta antes do casamento – (M. Jordan, Centre la dépopulation, le point de vue catholique).

Catecismo do Matrimônio por P. Joseph Hoppenot, S. J., Obra aprovada por 48 cardeais, arcebispos e bispos de França e Bélgica, 1928.

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