O Espírito Santo e o apostolado

Ó espírito Santo, invadi a minha alma e transformai-a em instrumento escolhido para a glória de Deus e para a salvação das almas.

1 – O amor é o coração do apostolado. Compreendeu-o muito bem S.ta Teresa do Menino Jesus quando, depois de ter passado em revista todas as vocações possíveis, reconhecendo que não eram ainda suficientes para saciar os seus imensos desejos apostólicos, concluía: “Encontrei finalmente a minha vocação: A minha vocação é o amor!… No coração da Igreja minha Mãe, serei o amor! Assim serei tudo” (M.B. pg. 233, 234). Mas onde haurir uma caridade tão plena e transformante? Não esqueçamos que a fonte principal da caridade é o Espírito Santo, o termo pessoal do amor do Pai e do Filho, sopro eterno do Seu amor recíproco. Este Espírito Santo foi nos “dado”, é “nosso”, habita em nossos corações para derramar neles aquela caridade sobrenatural que nos faz arder em amor de Deus e das almas: “A caridade de Deus está derramada em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5, 5). Comunicando aos homens a chama da divina caridade, associando-nos ao Seu amor infinito, o Espírito Santo é o secreto animador e sustentáculo de todo o apostolado. “Ele – ensina Pio XII – com o Seu celeste sopro de vida, é o princípio de toda a ação vital e eficazmente salutar… no Corpo místico de Cristo” (Myst. Corp.). Ele é a ama da Igreja. Queremos ser apóstolos? Abramos de par em par os nossos corações às efusões do Espírito Santo, a fim de que a Sua caridade nos invada e nos penetre a ponto de absorver em Si o nosso pobre amor. Quando o amor de uma alma se une à “chama de amor viva” que é o Espírito Santo, até ficar “feita uma só coisa com ela” (cfr. J.C. CV. 1, 3), então torna-se amor vivificante do grande ideal: “No coração da Igreja eu serei o amor! Deste modo eu serei tudo”. Para atingir este cume supremo do amor e do apostolado é preciso, dia a dia, momento a momento, secundar as moções do Espírito Santo, é preciso abrir-se docilmente à Sua ação, deixar-se dirigir e governar por Ele. É preciso sobretudo, conformar-se com o movimento da Sua caridade infinita que se lança, com plenitude total, no pai e no Filho, e logo se derrama sobre as almas para as arrastar todas para a Santíssima Trindade.

2 – O apostolado inaugurou-se na Igreja no dia de Pentecostes, quando os Apóstolos, “cheios do Espírito Santo, começaram a falar em várias línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (Act. 2, 4). Anteriormente os Doze eram uns pobres homens, rudes, fracos, medrosos. Mas eis que o Espírito Se apodera deles e os transforma em homens de fogo, prontos a oferecer a vida para dar testemunho do Senhor.

Como outrora, também hoje o Espírito santo pode renovar o grande milagre; como então, também hoje pode – ou melhor, quer – apoderar-Se de pobres homens, de fracas mulheres e transformá-los em ardorosos apóstolos. Que condição requer? Uma docilidade tão minuciosa e delicada que se converta em plena disponibilidade em face da Sua presença operante, dos Seus impulsos, das Suas iniciativas. Isto exige que o apóstolo tenha um verdadeiro sentido da sua dependência do divino Paráclito; sentido que se deve traduzir praticamente num cuidado diligente por se manter, mesmo no meio da atividade, em contínuo contato com Ele, sempre atento ás Suas inspirações e pronto a secundá-las. Tal como o vento, o Espírito Santo “sopra onde quer, e tu ouves a sua voz mas não sabes donde vem nem para onde vai” (Jo. 3, 8); a Sua inspiração pode surpreender-nos em pleno trabalho, não menos do que na oração; é portanto necessário habituarmo-nos a tratar interiormente com Ele, ainda que exteriormente nos ocupemos das criaturas. Esta disposição é particularmente necessária nos contatos diretos com as almas. Então, mais do que nunca, o apóstolo deve invocar o Espírito Santo, deve manter-se sob o Seu influxo, deve deixar-se guiar por Ele. As almas pertencem a Deus e é preciso dirigi-las, não segundo o espírito próprio, mas segundo o Espírito de Deus. A plena disponibilidade exige uma grande fé, uma grande confiança na ação onipotente e transformante do Espírito Santo. Só assim o apóstolo terá coragem para se prontificar para qualquer obra, muito embora se reconheça incapaz; só deste modo terá coragem para enfrentar com generosidade qualquer sacrifício ainda que sinta toda a sua fraqueza. O Espírito Santo não nos foi dado em vão; está em nós, e pode transformar-nos em “instrumentos escolhidos” para a glória de Deus e para a salvação das almas, desde que nos entreguemos totalmente a Ele.

Colóquio – “Perdoai-me, meu Jesus, se digo despropósitos ao querer exprimir os meus desejos, as minhas esperanças que atingem o infinito, perdoai-me e curai-me a alma concedendo-lhe o que ela espera! Ser Vossa esposa, ó Jesus, ser, pela minha união conVosco, mãe das almas, já me deveria bastar… Contudo sinto em mim outras vocações. Sinto a vocação de guerreiro, de sacerdote, de apóstolo, de doutor, de mártir… Ó Jesus, meu amor, minha vida, como realizar os desejos da minha pobre alminha?

“Fizestes-me compreender que nem todos podem ser apóstolos, profetas, doutores… Que a Igreja é constituída por membros diferentes e que o olho não poderia ao mesmo tempo ser a mão… Fizestes-me compreender que os dons mais perfeitos não são nada sem o amor, que a caridade é o caminho mais excelente que nos leva com segurança até Vós.

“Finalmente encontro repouso! A caridade deu-me a chave da minha vocação. Compreendo que se a Igreja tem um corpo composto por membros diferentes, não lhe falta o mais necessário, o mais nobre de todos: compreendo que a Igreja tem um coração e este Coração é ardente de amor.

“Compreendo que só o amor faz agir os membros da Igreja, que se o amor viesse a extinguir-se, os Apóstolos deixariam de anunciar o Evangelho, os mártires se recusariam a derramar o sangue… Compreendo que o amor engloba todas as vocações, que o amor é tudo, que se estende a todos os tempos e a todos os lugares, numa palavra, que o amor é eterno! Ó Jesus, meu amor, encontrei finalmente a minha vocação: a minha vocação é o amor! Sim, encontrei o meu lugar na Igreja e este lugar, ó meu Deus, fostes Vós quem mo deu! No Coração da Igreja minha Mãe, serei o amor; assim serei tudo, assim será realizado o meu sonho!” (T.M.J. M.B. pg. 230 e seg.).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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