A oração apostólica

Aceitai, Senhor, a minha pobre oração pela vinda do Vosso reino.

1 – Desde que Jesus morreu por nós na cruz, a redenção da humanidade é, objetivamente, um fato consumado; todo o homem que vem ao mundo é já um remido, pois o preciosíssimo Sangue de Jesus mereceu-lhe todas as graças necessárias para a sua salvação e santificação. Falta apenas a aplicação destas graças a cada alma em particular e é precisamente nisto que Deus quer a nossa colaboração a tal ponto que estabeleceu fazer depender da nossa oração a concessão de certas graças indispensáveis à nossa salvação e à do próximo. Em virtude dos méritos de Jesus, a graça, a misericórdia infinita de Deus está pronta a derramar-se abundantemente sobre os homens, porém não se derramará se não houver quem eleve aos céus mãos suplicantes que a peçam. Enquanto a oração não subir ao trono do Altíssimo, a graça não será concedida. Isto explica a necessidade absoluta da oração apostólica e a sua grande eficácia. “Certos demônios não se lançam fora senão mediante a oração e o jejum” (Mt. 17, 20), disse Jesus. A oração é insubstituível porque vai haurir a graça diretamente à sua fonte que é Deus. A nossa atividade, as nossas palavras e as nossas obras podem dispor o terreno para a graça, mas se não houver quem reze, esta não descerá a rociar as almas.

À luz destas verdades podemos avaliar melhor o alcance das insistentes exortações de Jesus à oração: “Importa orar sempre e não cessar de o fazer… Pedi e dar-se-vos-á, buscai e encontrareis, batei e abrir-se-vos-á” (Lc. 18, 1; 11, 9).

Não podemos ter a certeza de que todas as nossas orações irão ser atendidas, pois ignoramos se o que pedimos é conforme à vontade divina; mas quando se trata de oração apostólica que solicita a graça e a salvação das almas, é muito diferente. Com efeito, quando oramos para fins de apostolado, inserimo-nos no plano que Deus predispôs desde toda a eternidade, para a salvação dos homens, plano que Deus, muito mais do que nós, deseja realizar; e por isso não podemos duvidar do resultado da nossa oração. Justamente por causa desta eficácia, a oração apostólica constitui um dos mais poderosos meios de apostolado.

2 – Se Deus quis subordinar a distribuição das graças no mundo à oração dos homens, e se hoje os homens rezam tão pouco, e muitíssimos – a maioria talvez – não rezam nada, é sumamente necessário que haja na Igreja almas totalmente consagradas à oração. Por uma vida de oração contínua, de adoração e de louvor incessante ao Altíssimo, estas almas suprem a negligência e o descuido de muitos e restabelecem no mundo o equilíbrio entre os direitos de Deus e os deveres dos homens, entre a ação e a contemplação. Orando e implorando por todos, são no Corpo místico de Cristo, os órgãos ocultos, mas preciosos, aos quais incumbe fazer fluir a seiva divina da graça por todos os membros; são na Igreja “centrais” de energias sobrenaturais, produzidas e acumuladas pela oração e por meio dela difundidas até aos últimos confins da terra. Como a oração de Moisés foi o segredo e a garantia da vitória de Israel, assim a oração dos contemplativos e das contemplativas é o segredo e a garantia da vitória para aqueles que lutam no mundo. “Os meus irmãos trabalham no meu lugar; – exclama S.ta Teresa do Menino Jesus – eu fico junto do trono do Rei…, e amo pelos irmãos que combatem” (cfr. M.B. pg. 236); amo, isto é, rezo, sofro e ofereço-me por eles.

A oração incessante que os contemplativos elevam a Deus em nome de toda a cristandade, não dispensa todavia os outros fiéis de cumprirem pessoalmente este grande dever. Sobretudo os que se dedicam ao apostolado exterior devem dar, na sua vida, um lugar suficiente à oração. Infelizmente, porém, confiamos muitas vezes mais no nosso trabalho, na nossa habilidade, na nossa técnica, do que na oração; acreditamos demasiado pouco na sua eficácia, e na ajuda que Deus concede certamente a quem O invocar de todo o coração, por isso julgamos perdido o tempo empregado nela. Erro fundamental resultante da falta de fé e de humildade, erro que explica a esterilidade de tantas obras. “Advirtam pois os que são muito ativos – admoesta S. João da Cruz – que pensam abraçar o mundo com as suas prédicas e obras exteriores, que dariam muito mais proveito à Igreja e agradariam muito mais a Deus, à parte o bom exemplo que dariam, se gatassem sequer a metade desse tempo com Deus na oração” (C. 29, 3).

Colóquio – “Ó Pai eterno, quero oferecer-Vos aquele Sangue que o Vosso Verbo derramou com amor tão abissal e com tanto fogo de caridade pela salvação dos homens.

“Ó Verbo, ofereço-Vos as infinitas gotas de Sangue que derramastes com tanta abundância quando fostes flagelado na coluna, e assim como o vertestes de todos os Vossos membros, também eu Vo-lo ofereço por todos os membros da Santa Igreja, da qual sois a Cabeça. Ofereço-Vo-lo para que os Vossos cristos [os sacerdotes] voltem a ser a luz do mundo, para que as Vossas virgens não sejam do número das loucas, para que os infiéis e hereges entrem ne novo no aprisco de Deus, para que todas as almas se salvem.

“Ó Verbo, quero falar conVosco, tal como Vós o fizestes conosco. Em verdade, em verdade Vos digo, ó Verbo, que mil vezes sacrificaria a minha vida, se mil vidas tivera, para ajudar estas almas a salvarem-se. Não quero sair daqui sem que primeiro ilumineis alguma delas. Porém não sou digna de ser ouvida. Ouvi-me, não a mim, que sou excessivamente presunçosa, mas ao Vosso Sangue. Não podeis falar, a Vós mesmo; ouvi, ouvi, pois, ó Verbo, o Vosso Sangue.

“Ó Pai eterno, o amor que Vos levou a criar os homens, Vos mova também a dar-lhes a Vossa luz. Sei muito bem que não deixais de lha infundir, mas eles não a recebem. E de quem é a culpa? Da minha ingratidão. Conheço, sim, ó meu Deus, conheço a minha ingratidão, mas não a penetro inteiramente. Castigai em mim as ofensas que Vos fazem. Castigai em mim as suas culpas. Oh! miserável de mim, que sou causa de todas as ingratidões e de todos os males!

“Se eu pudesse, tomaria todos os homens e conduzi-los-ia ao seio da Vossa Santa Igreja, a fim de que ela os purificasse de todas as suas infidelidades, os regenerasse como uma mãe os seus filhinhos e os nutrisse com o leite suave dos santos sacramentos” (S.ta M. Madalena de Pazzi).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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