Hereges e Heresias: Tendências racionalistas e nacionalistas

O Concílio de Trento (1545-1563) havia definido as verdades dogmáticas combatidas e negadas pelos protestantes, e iniciara uma reforma benfazeja em todo o sentido da palavra e em todos os ramos da vida religiosa.

Para a Igreja foi providencial este trabalho, pois um outro perigo já surgia; o deísmo inglês e o racionalismo, ambos frutos das ideias protestantes.

JANSENISMO

Foi na França, porém, que estas ideias encontraram guarda entre alguns católicos e provocaram alguns erros funestos. Nos séculos 16 e 17, Bay ou Bajus, Jansenius, bispo de Ypern em Flandres, e Quesnel defenderam opiniões nitidamente protestantes, em particular a respeito da primitiva graça. Os Papas logo condenaram estas perniciosas ideias. Mas, infelizmente, o convento de Port Royal tornou-se um baluarte do jansenismo, onde Arnauld, sua irmã Angélica, abadessa do mosteiro, e mais outros continuaram a sustentar os erros condenados. A luta desenvolveu-se principalmente com os jesuítas que propugnavam a doutrina católica sobre a liberdade da vontade humana.

O jansenismo ostenta na vida prática um rigorismo extremo e, por isto, parecia a muitos certo. Mesmo aqui no Brasil, no século passado, não faltou quem simpatizasse com suas conclusões morais e pastorais, se bem que evitando seus erros dogmáticos. Na Holanda, porém, este movimento levou ao cisma a igreja de Utrecht, que se tornou jansenista e tem bispos validamente sagrados.

GALICANISMO

Ao mesmo tempo, também a ideia da independência nacional levada ao absurdo, provocava na França os erros do que ficou sendo chamado galicanismo. Muitos direitos do Papa foram negados e declararam-no falível e sujeito ao concílio dos bispos. Até o grande pregador Bossuet deixou-se arrastar por esta tendência que foi posta em prática por Luiz XIV. Um dos resultados práticos destas ideias foi o conhecido “Placet” dos reis, sem o qual as bulas e ordens do Papa não deviam ter efeito nos diversos países. Na Alemanha, Febrônio propalou estas ideias, na Áustria o imperador José II as realizou, e aqui no Brasil, no segundo império elas deram lugar à célebre questão religiosa, cujas vítimas foram os bispos D. Macedo Costa e D. Frei Vital.

CATÓLICOS ANTIGOS

Quando em 1870 o Concílio do Vaticano definiu o dogma da autoridade suprema e da infalibilidade do Papa, alguns católicos na Alemanha não quiseram aceitar estas verdades, e fundaram a chamada igreja dos católicos antigos que, entrando em contato com a igreja herética de Utrecht, dela recebeu bispos e padres validamente ordenados.

“IGREJA CATÓLICA BRASILERA”

Em outros países apareceram também tais igrejas nacionais, que negam a universalidade ou catolicidade da Igreja de Cristo e seu fundamento prático que é a autoridade do Papa. Como é bastante conhecido, aqui no Brasil, há pouco tempo o ex-bispo de Maura começou uma tentativa neste sentido. Favorece o indiferentismo religioso, exigindo o mínimo de verdades confessadas: “Católicos, protestantes, espíritas, espiritualistas, teosofistas, positivistas, maçons, e todos aqueles que nutrem admiração pela pessoa de Cristo, como homem, considerando-o o Homem perfeito ou o Homem modelo, ou como filósofo, formamos, todos com Cristo e em Cristo, um corpo…” Mas destarte não é mais verdadeiro cristão, porque nega clara e abertamente a divindade de Nosso Senhor, verdade fundamental de todo o cristianismo. Igualmente a sua moral manifesta-se minimista e comodista. A sua “Igreja católica e apostólica brasileira”, como a chama, “admite o divórcio, dentro do Evangelho. Abole o celibato eclesiástico, por ser contra as leis da natureza. Rejeita a confissão auricular por absurda. Permite, aos sacerdotes ter um ofício civil ou militar. todos os ofícios são feitos em língua vernácula”; é também cismática ou “nacional, porque se desagrega da Igreja Romana, não reconhecendo como Chefe o Chefe da Igreja Romana”, que é o Santo Padre. (Palavras oficiais tiradas do seu Decreto primeiro e seu manifesto à Nação, datados em 21 de Julho de 1945, respectivamente em 18 de Agosto de 1945).

MODERNISMO

Quando o racionalismo no século passado e no início deste tentou penetrar na Igreja, a vigilância dos Papas lhe fechou logo a entrada e eliminou o perigo. É bem conhecida ainda a energia com que Pio X extirpou entre os católicos o modernismo, sumário das heresias modernas e do orgulho racionalista. As cartas Encíclicas dos Papas são um testemunho irrefutável do sentimento de responsabilidade com que eles vigiam a integridade da Fé, da doutrina revelada por Cristo.

Hereges e Heresias, Frei Mariano Diexhans O.F.M., 1ª Edição, 1946.

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