O convite divino – Décimo Nono Domingo depois do Pentecostes

Concedei-me, ó Deus, a grande graça de corresponder generosamente a todos os Vossos convites.

1 – O Evangelho de hoje (Mt. 22, 1-14) esboça a história dolorosa – infelizmente sempre atual – da ingratidão humana que rejeita a misericórdia divina, desprezando os Seus dons e os Seus convites.

“O reino dos céus é semelhante a um rei que fez as núpcias de seu filho. E mandou os seus servos chamar os convidados para as núpcias e não quiseram vir”. O rei é Deus Pai, o filho é o Verbo eterno que, ao incarnar, desposou a natureza humana para a remir e santificar. Deus convida todos os homens para o grande banquete destas núpcias divinas, onde encontrarão a sua salvação; imersos, porém, no materialismo das coisas terrenas, rejeitam tanto o convite como os emissários, “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados” (Mt. 23, 37), é a queixa que um dia o Filho de Deus pronunciará, denunciando ao mundo não só a obstinada resistência do povo eleito, mas ainda a de todas as almas, que, com anta teimosia e ingratidão, rejeitam o Seu amor e a Sua graça. Os profetas, o Batista, os Apóstolos, são os “servos”, os mensageiros enviados por Deus para chamarem os homens ao banquete da Redenção, mas todos foram presos e mortos. “Lançaram mão dos servos – diz o Evangelho – e depois de os terem ultrajado, mataram-nos”. A parábola de hoje nada mais acrescenta, mas infelizmente a ingratidão humana vai muito além: não só os servos e os mensageiros foram mortos, mas o próprio Filho de Deus. No entanto a misericórdia de Deus é tão grande que não Se dá por vencida e continua a convidar para o Seu banquete. Neste, oferece como alimento a carne imaculada do Seu divino Filho, a quem os homens mataram. O banquete está preparado; Jesus, o Cordeiro divino, foi imolado para a redenção da humanidade e se muitos não corresponderam ao convite, outros serão convidados: “As núpcias estão preparadas, mas os que tinham sido convidados não foram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas das ruas e a quantos encontrardes convidai-os para as núpcias”.

Também nós fomos convidados; mas como correspondemos ao convite? Não mostramos nós também mais interesse e diligência pelos negócios terrenos do que pelas coisas de Deus? Não fomos semelhantes aos homens da parábola que “desprezaram [o convite] e foram-se um para sua casa e outro para o seu negócio”?

2 – A parábola de hoje simboliza, em primeiro lugar, o convite à vida cristã; convite que, rejeitado pelo povo judeu, foi dirigido a todos os povos. Mas também podemos ver nela o convite a uma vocação particular: vocação ao sacerdócio, à consagração a Deus no claustro ou no mundo, ao apostolado, a uma missão especial. Para corresponder À vocação não basta uma aceitação qualquer, é necessária uma adesão sincera e profunda que comprometa toda a alma. A parábola fala-nos de um homem que não recusou o convite, mas que lhe correspondeu de um modo indigno, apresentando-se no banquete sem a veste nupcial. É a imagem dos que respondem materialmente ao chamamento do Senhor, mas não se preocupam com aderir a ele com o espírito, com as obras, não cuidando de viver de maneira digna da sua vocação; estas almas põem em perigo a sua salvação, pois com Deus não se brinca. Deus não Se deixa enganar pelas aparências; não há uniformes nem insígnias externas que Lhe possam encobrir o verdadeiro estado de uma alma. Ele distingue muito melhor do que o rei da parábola, os que não têm a veste nupcial, a veste da graça e das virtudes requeridas pela vocação recebida; mais cedo ou mais tarde, virá o dia em que pronunciará sobre eles as terríveis palavras: “Atai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas exteriores”.

Todavia, mesmo sem chegar a tais extremos, pode-se ficar muito aquém da correspondência plena ao chamamento divino. É bom recordar a este propósito que o problema da correspondência à vocação não é um problema que se resolva de uma vez para sempre no dia em que se abraça um estado particular de vida, mas é um problema de todos os dias, porque a vocação exige cada dia uma nova resposta, uma nova adaptação às circunstâncias e à graça do momento. A vocação alcança a sua plena realização através da fidelidade constante aos convites divinos que, sucedendo-se ininterruptamente, abrem à alma atenta, horizontes sempre novos, apresentando-lhe novos deveres, novos aspectos de generosidade, novas modalidades de perfeição e de doação. A parábola termina com esta grave sentença: “São muitos os chamados e poucos os escolhidos”. Porque são poucos os escolhidos? Porque são poucos os que sabem corresponder, dia a dia, à graça da vocação, aceitar todas as consequências e exigências do chamamento divino, dizer sempre sim aos convites da graça.

Colóquio – “Ó Senhor, assim falais Vós à minha alma: ‘Porque te afastaste de mim com vãs preocupações? Porque não te apressaste a preparar um veste adornada para as núpcias? Eu, ó alma, sofri a morte para te tomar por esposa. Por ti me fiz homem a fim de preservar da corrupção a tua vida, e antepus a tua salvação a todas as minhas obras. Preparei no céu um tálamo para ti e ordenei aos anjos que nele te servissem. E tu quererás desprezar-te a mim, teu Esposo celeste? A quem me quererás preferir, eu que, com as minhas misericórdias, salvei o gênero humano? Que pai te poderá dar a vida como eu? Que pai e que esposo te poderá amar tanto como eu?’

“Que Vos responderei, meu Deus?

“Perdoai-me, salvai-me, ó paciente e bondoso Senhor! Salvai-me, Filho de Deus, ó Cristo, ó único que estais sem pecado. Fazei que não tenha nada no meu coração além do desejo de corresponder aos Vossos chamamentos e que, ajudado pela Vossa graça, cumpra sempre a Vossa vontade, prontificando-me a seguir de boa vontade as Vossas ordens, a fim de que, com os talentos que recebi de Vós, possa negociar e adquirir os bens do Vosso reino. Fazei que Vos louve com confiança e com alegria de coração, fazei que Vos diga ao chegardes: Sou feliz porque viestes para me cobrir com a digna veste nupcial que adquiri coma Vossa graça.

“Acenderei, ó Cristo, a lâmpada que me foi dada pela Vossa graça e bondade. Irei com júbilo ao Vosso encontro, bendizendo-Vos, louvando-Vos, e glorificando-Vos, ó Esposo imortal” (S.to Efrém).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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