Oração a Maria, arrebatadora dos corações

O Senhor se dignou de declarar à Santa Catarina de Sena que Ele tinha criado Maria, sua filha de predileção, como um doce atrativo para chamar e prender os homens, e particularmente os pecadores.

Ó doce soberana, vós, conforme a expressão de São Boaventura, arrebatais os corações dos que vos servem cumulando-os da vossa ternura e liberalidade: eu vos suplico, tornai também o meu miserável cora­ção que arde no desejo de vos amar muito. Quê! pela vossa beleza, ó minha Mãe, atraístes o vosso Deus, ao ponto de fazê-lo descer do céu à terra; e eu viveria sem vos amar? Não, certamente; não me darei repouso enquanto não tiver obtido amor terno e constante a vós, ó minha Mãe, que haveis sido tão boa a meu respeito, ainda quando eu era um ingrato! Ai! que seria de mim agora, ó Maria, se não me houvésseis amado e obtido tantas misericórdias? Ah! se tanto me amastes quando eu não vos amava, que devo esperar da vossa bondade agora que vos amo! Sim, amo-vos, ó minha Mãe, e quisera ter um coração capaz de vos amar por todos os infelizes que não vos amam; quisera ter uma língua capaz de vos louvar com mil línguas, para fazer conhecer a todo mundo a vossa grandeza, a vossa santidade, a vossa misericórdia, e o amor com que amais os que vos amam. Se tivera riquezas, todas quisera empregar em vos honrar; se tivera súditos, todos quisera fossem cheios de amor para convosco; quisera enfim sacrificar pelo vosso amor e glória, se fosse mister, até a minha vida.

Amo-vos, pois, ó minha Mãe, mas ao mesmo tempo, ai! temo não vos amar, porque ouço dizer que o amor faz os que amam semelhantes à pessoa amada. Devo então crer que bem pouco vos amo, vendo-me tão longe de me parecer convosco: vós, tão pura, eu, tão manchado; vós, tão humilde, eu, tão orgulhoso; vós, tão santa, eu, tão criminoso! Mas, ó Maria, eis aqui o que deveis fazer: já que me tendes amor, tornai-me semelhante a vós. Para mudar os corações tendes poder superabundante; tornai então o meu, e mudai-o; conheça o mundo o que podeis em favor dos que amais: tornai-me santo, e seja eu digno filho vosso. Assim o espero, assim seja.

As Mais Belas Orações de Santo Afonso, Coordenadas pelo Pe. Saint-Omer, Redentorista e vertidas para o vernáculo por D. Joaquim Silvério de Sousa, Editora Vozes, 1961.

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