Décimo Nono Domingo depois de Pentecostes – Pe. Júlio Maria S.D.N.

Décimo Nono domingo depois de Pentecostes (Mat. 12, 1-14)

  1. Naquele tempo, tomando a palavra, Jesus tornou-lhe a falar em parábolas, dizendo:
  2. O reino dos céus é semelhante a um rei que fez as núpcias de seu filho.
  3. E mandou os seus servos chamarem os convidados para as núpcias, e não quiseram vir.
  4. E enviou de novo outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que preparei o meu banquete, os meus touros e animais cevados já estão mortos, e tudo pronto: vinde às núpcias.
  5. Mas eles desprezaram (o convite) e foram-se, um para a sua casa de campo, e outro para o seu negócio:
  6. Outros, porém, lançaram mão dos servos que ele enviara e depois de os terem ultrajado, mataram-nos.
  7. O rei, ouvindo isto, irou-se, e mandando os seus exércitos, exterminou aqueles homicidas, e pôs fogo à sua cidade.
  8. Então disse a seus servos: As núpcias com efeito estão preparadas, mas os que tinham sido convidados não foram dignos.
  9. Ide, pois, às encruzilhadas das ruas, e a quantos encontrardes, convidai-os para as núpcias.
  10. E tendo saído os seus servos pelas ruas reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e ficou cheio de convidados a sala do banquete de núpcias.
  11. Entrou depois o rei para ver os que estavam à mesa, e viu lá um homem que não estava vestido com a veste nupcial.
  12. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo a veste nupcial? Mas ele emudeceu.
  13. Então disse o rei aos seus ministros: atai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores: aí haverá pranto e ranger de dentes.
  14. Porque são muitos os chamados e poucos os escolhidos.

A GRAÇA DIVINA

E Evangelho de hoje nos dá ocasião de explicar um ponto de doutrina de suma importância e bastante ignorado pelos fiéis: trata-se da graça de Deus.

O rei que celebra as núpcias de seu filho é o Pai Eterno, que une a natureza divina de seu Filho à natureza humana, na Pessoa de Jesus Cristo.

Há aí uma dupla união: a da natureza divina à natureza humana; e a da humanidade a Deus, pelos laços da caridade, união esta que produz em nós a vida sobrenatural, ou a graça.

A união da natureza divina e humana, em Jesus Cristo, chama-se a “Incarnação”.

A união do homem com Deus faz-se por meio da graça.

Procuremos compreender bem:

1. O QUE É  a graça.

2. O modo pelo qual se DIVIDE.

I. O QUE É A GRAÇA

a) A graça é um dom gratuito de Deus, é um presente da bondade divina feito à nossa humanidade, para elevá-la acima de si mesma, e fazê-la passar a um estado sobrenatural, fazendo de nós, não mais simplesmente criaturas e servos, mas: filhos adotivos de Deus.

b) Este dom é, pois, um dom sobrenatural, o que o distingue de todos os outros dons divinos.

Tudo o que possuímos é dom de Deus: nossas qualidades físicas, nossas faculdades intelectuais, etc…. tudo é presente de Deus, porém são presentes naturais dados para alcançar um fim natural.

A graça, pelo contrário, nos é dada para alcançar um fim sobrenatural, para nos elevar acima da condição humana, fazendo-nos participar da vida divina e tornando-nos capazes de ver a Deus no céu.

Sob todos estes pontos de vista, ela é, pois, um dom completamente sobrenatural.

c) Em terceiro lugar, este dom é gratuito.

Deus no-lo concede em vista dos merecimentos de Jesus Cristo, é certo, porém o valor desses méritos provêm do fato de o homem que os adquiriu ser Deus: ou Homem-Deus.

Sendo Ele Deus, as suas obras são divinas e, como tais, de valor infinito.

Eis o que é a graça: um dom gratuito da bondade divina.

II. DIVISÃO DA GRAÇA

A graça tem por fim ajudar-nos a operar a nossa salvação, isto é, obter-nos a vida eterna. Para isso, ela nos constitui, desde este mundo, num estado que nos torna capazes de merecer o céu, e este estado chama-se: estado de graça, ou graça habitual (santificante).

Para ajudar-nos a adquirir e a conservar esta graça, e a readquiri-la, se tivéssemos tido a desgraça de perde-la, nós precisamos ainda do auxílio de Deus; este novo auxílio chama-se a graça atual.

Para compreender estas duas espécies de graça: a habitual e a atual, basta meditar bem a parábola do Evangelho de hoje.

Todos os convidados do banquete real – exceto um – estão revestidos da veste nupcial, símbolo da inocência que os torna agradáveis aos olhos do Rei.

É a graça habitual.

Mas, para chegar a este banquete, para poder penetrar no palácio do Rei e sentar-se à sua mesa, era preciso o convite do Rei.

Este mandou-lhes os seus servos para convida-los, revesti-los da veste nupcial e introduzi-las na sala do festim. Todas estas atenções e preparações são a imagem da graça atual.

Em duas palavras, pode-se dizer que a graça habitual adorna a nossa alma, tornando-a agradável aos olhos de Deus; enquanto a graça atual faz agir nossas faculdades, para a prática da virtude.

A graça habitual é um estado.

A graça atual é uma ação.

III. CONCLUSÃO

Sem mim nada podeis fazer, disse Jesus Cristo.

De fato, o homem, por si mesmo, é incapaz de vencer os inimigos que o rodeiam e o atacam incessantemente: o demônio, a carne e o mundo.

Ele precisa de uma força extrínseca que não encontra em si mesmo.

Esta força é a graça.

A graça é um auxílio divino, uma força divina que opera a dupla ação acima indicada: embelezar a alma: a graça santificante; por em movimento as faculdades da alma: a graça atual.

A primeira graça é chamada habitual, porque permanece na alma, enquanto esta não cometer o pecado.

A segunda chama-se atual, porque é dada na ocasião da ação.

Os sacramentos, por si mesmos, dão ou aumentam a graça santificante; e, pela cooperação do homem, dão a graça atual.

Com esta dupla graça o homem é uma força divina; sem ela é uma pobre nulidade. Bonus vir, sine Deo, nemo est, disse Sêneca e Nosso Senhor afirmou: Sine me nihil potest facere.

Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.

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