Mês das Almas do Purgatório: 29º dia – Dos sufrágios que poderão esperar no purgatório os benfeitores das santas almas

MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

VIGÉSIMO NONO DIA

Dos sufrágios que poderão esperar no purgatório os benfeitores das santas almas

MEDITAÇÃO

I. Seremos tratados como tivermos tratado os outros, e encontraremos ou não compaixão no outro mundo, conforme tivermos ou não sido misericordiosos neste. A compaixão é uma semente que produz compaixão, e o homem não recolhe no outro mundo senão o que semeou neste. Se, portanto, semeamos sufrágios em favor do purgatório, os recolheremos mais abundantes e mais eficazes, se nos acontecer cair nessa região de dores; mas se apenas mostramos dureza e esquecimento, ah! que fruto amargo se reserva à nossa alma. Não encontraremos para nós senão dureza e esquecimento; e isto será tão amargo que não poderemos duvidar ser o fruto das nossas obras. Para evitar tal desgraça, sejamos generosos para com o purgatório.

II. Deus tudo pode, mas não está obrigado a fazer milagres. Nos desígnios da sua santíssima vontade, determinou uma certa economia de sua providência, da qual ordinariamente não faz exceção. Ele faz com que o seu sol alumie também os ingratos deste mundo, e não só os bons. Mas parece que, para os ingratos, esse astro beneficente perde os seus raios, enquanto que para os bons faz nascer abundantes colheitas. Acontece o mesmo no outro mundo; ainda que os sufrágios da religião não faltem a defunto algum, todavia, por uma justa disposição da divina Providência, terá pouco alívio aquele que se tiver mostrado insensível para com o purgatório; ao mesmo tempo, aquele que tiver sido misericordioso e caritativo, achará fecunda compaixão no favor divino, aumentada por uma participação mais abundante nos sufrágios comuns e algumas vezes nos sufrágios especiais oferecidos pelos outros. Procuremos desde já este favor divino, afim de não o desejarmos em vão e muito tarde na outra vida.

III. No mundo age-se muitas vezes, mais por imitação do que por principio e o exemplo é o mais influente motivo das ações dos homens. Se, portanto, deixarmos sobre a terra exemplo de generosa compaixão pelas almas do purgatório, acharemos imitadores; mas se dermos o escândalo de uma fria indiferença e cruel esquecimento, seremos também esquecidos e desprezados. É bom impor aos herdeiros a obrigação de Missas e outros piedosos sufrágios, atendendo a que os nossos herdeiros serão pontuais e exatos em cumpri-los ou negligentes e injustos, conforme o que nós mesmos houvermos sido. Tudo depende, pois, da nossa conduta: a misericórdia que encontrarmos no outro mundo, o favor divino e a generosa lembrança dos fiéis. Quem quererá privar-se de tantos bens?

SÚPLICA

Ah! Senhor, não queremos privar-nos da compaixão de nossos irmãos nem da vossa misericórdia; pelo contrário, recomendamo-nos instantemente à vossa infinita bondade e às obras de caridade dos homens, pois são as únicas fontes, que derramam algum bem na outra vida. Faltar-nos-á tudo o mais, mas também ganharemos tudo, se vós nos assistirdes, Senhor, com a vossa clemência e se os piedosos fiéis nos ajudarem com seus sufrágios. Ora, para conquistar este duplo apoio, quereis vós que o mereçamos nesta vida. Nós vos prometemos trabalhar para isso com todas as forças, mas que poderemos fazer sem o vosso socorro? Sois vós quem dá o querer e o fazer, sois vós quem depõe em nossos corações o germe de uma religiosa compaixão! Ah! concedei-nos em abundância esta semente divina, e procuraremos corresponder plenamente às vossas graças.

EXEMPLO

Uma donzela chamada Gertrudes, educada num asilo de caridade, acostumara-se desde os mais tenros anos a oferecer por intenção das almas do purgatório todas as suas boas obras. Era tão bem aceita esta devota prática no purgatório e no céu, que muitas vezes o Salvador se comprazia em designar-lhe as almas mais necessitadas; estas, libertadas pela sua piedosa caridade, se lhe mostravam gloriosas, para lhe agradecerem e prometiam-lhe não esquecê-la no paraíso. Passava a vida neste santo exercício e, cheia de confiança, via em paz aproximar-se a morte, quando o infernal inimigo, que de tudo sabe fazer ocasião para tentar os homens, começou a representar-lhe que ela se havia despojado de todo o mérito satisfatório de cada boa obra, e que ia cair no purgatório para nele expiar em longas penas todas as suas culpas.

Este tormento de espírito a lançara em tal desolação, que seu Esposo celeste dignou-se de vir consolá-la. “Porque, disse ele, ó Gertrudes, estás tão triste e pensativa? Tu que outrora gozavas da mais perfeita serenidade?” Ah! Senhor, respondeu ela, em que deplorável situação me encontro! vêde, a morte se aproxima, achando-me eu privada da satisfação das minhas boas obras, que apliquei pelos defuntos; com que poderei pagar a dívida que contraí para com a divina justiça? Replicou-lhe com ternura o Senhor: “Não temas, ó querida minha, porque, ao contrário, aumentaste pela tua caridade a soma de teus merecimentos, e não só tens bastantes para expiares as tuas leves culpas, mas adquiriste um altíssimo grau de glória na bem-aventurança eterna. É assim que minha clemência reconhecerá com uma generosa recompensa, que cedo virás receber no paraí­so, a tua dedicação pelos defuntos”.

Desapareceu a estas palavras, e a alma de Gertrudes foi incendiada de um novo fervor e de um ardente desejo de socorrer as almas dos defuntos. Enchamo-nos também de zelo e caridade para com essas almas, que rico galardão está prometido nos céus aos nossos esforços. (Dyon. Cart. de noviss. apud P. Mart. de Rox, de statu animarum, cap. 20).

SUFRAGIO

Visitar os enfermos e encarcerados, consola e alivia as almas do purgatório.

***

Ninguém no mundo nos oferece uma imagem mais perfeita do purgatório do que os prisioneiros privados da liberdade nos seus cárceres, ou os enfermos, que sobre seus leitos sofrem os ardores da febre sob o peso da doença. Muitos fiéis, devotos do purgatório, se têm aplicado a visitar com caridade uns e outros para aliviar neles, de uma maneira sensível, as almas que padecem; o nosso exercício deste dia será imitar a sua piedosa compaixão, visitando os prisioneiros e enfermos, a quem levaremos alívio ou ao menos alguma palavra de animação. Juntaremos a isso, segundo os nossos meios, um socorro, que adoçará suas penas, ao passo que servirá de sufrágio para as almas do purgatório. Esta dupla caridade nos será utilíssima na outra vida.

O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.

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