O exercício da paciência

Ó Senhor, dai-me mais paciência para que eu possa sofrer mais por Vosso amor.

1 – A paciência é uma virtude de necessidade primordial e quotidiana. Assim como temos necessidade de pão para viver, assim também em cada dia, ou antes, em cada momento, precisamos da paciência por que todos os dias e todos os momentos trazem consigo a sua pena. Tornamo-nos pacientes fazendo atos de paciência, ou seja, habituando-nos a aceitar docilmente tudo o que nos contraria ou nos faz sofrer. Mas se em vez de aceitar, resmungamos e procuramos fugir o mais possível de tudo o que nos desagrada, nunca adquiriremos a paciência. Se, por exemplo, por dever de ofício, contatamos com uma pessoa que nos fere, ou então nos encontramos a braços com um trabalho pesado, difícil ou maçador e procuramos libertar-nos o mais depressa possível, pedindo uma mudança, privamo-nos de uma ocasião preciosa preparada pelo próprio Deus para nos fazer exercitar a virtude. Em certos casos é lícito e pode ser até um dever expor as nossas dificuldades aos superiores e pedir humildemente algum remédio, mas nunca devemos insistir demasiado para o obtermos. Pelo contrário, é necessário pensar que a divina Providência dispôs para nós essa circunstância precisamente para nos fazer adquirir a paciência que ainda não temos. S. Filipe de Néri que se lamentava um dia ao Senhor por ter que tratar com uma pessoa impertinente e muito molesta, sentiu que lhe respondiam interiormente: “Felipe, pediste-me a paciência, es aí o meio para a adquirires”. Deus dar-nos-á, certamente, as virtudes que Lhe pedirmos, mas só no-las dará se, aproveitando os meios que nos oferece e o socorro da Sua graça, nos aplicarmos a exercitá-las.

Quem quiser verdadeiramente ser santo, nunca procurará evitar as ocasiões de exercitar a paciência, mas abraçá-las-á de boa vontade tal como se lhe apresentam porque vê nelas os meios dispostos por Deus para a sua santificação. E como pode ousar uma pequena criatura querer mudar aquilo que foi disposto “com medida, conta e peso” (Sab. 11, 21) pela Sabedoria infinita de Deus?

2 – Deus sabe tirar o bem do mal, por isso pode servir-Se, e serve-Se de fato, também dos defeitos e até dos pecados, nossos e dos outros, para nos fazer exercitar a paciência. Paciência para conosco, vendo-nos tão fracos, tão imperfeitos, tão prontos a cair, reconhecendo humildemente as nossas culpas e suportando em paz as suas consequências; paciência para com os outros, compadecendo-nos das fraquezas de cada um e aceitando, sem nos irritarmos, os incômodos e sofrimentos que nos podem ocasionar os seus defeitos. Pro exemplo, quando uma pessoa nos perturba ou nos provoca, não devemos deter-nos a considerar o seu modo de proceder porque isso irritar-nos-ia, tornando-nos mais difícil o exercício da paciência; devemos, ao contrário, desviar o nosso olhar das criaturas para o fixarmos em Deus que permite essa contrariedade para nos fazer progredir na virtude. Devemos também evitar lamentar-nos aos outros daquilo que sofremos e nem mesmo interiormente o devemos fazer. Os queixumes amarguram sempre o coração e indispõem-no para aceitar em paz a dor. “Sofrer e calar-me por Vós, meu Deus” (T.M.), é o lema da alma paciente que quer conformar-se com a conduta de Jesus na Sua Paixão: “Foi oferecido [em sacrifício]… e não abriu a sua boca” (Is. 53, 7). Se temos necessidade de um pouco de ajuda para suportar a prova, falemos dela só aos que nos podem animar a sofrer por amor de Deus e não àqueles que, consolando-nos e compadecendo-se de nós de uma maneira muito humana, podem alimentar em nós o ressentimento para com os que nos fazem sofrer.

Os santos foram todos ávidos das ocasiões de sofrimento de que nós fugimos com tanto cuidado. Pensemos em Sta Francisca de Chantal que, por muitos anos, se sujeitou a viver em casa do sogro em contato com uma pessoa do serviço que lhe faltava ao respeito, que a caluniava e prejudicava até os interesses dos seus filhos. Pensemos em S. João da Cruz que, tendo tido a liberdade de escolher o convento onde passaria os seus últimos dias, deu a preferência àquele de que era superior um religioso que lhe era contrário. Heroísmo de santos, sim, mas heroísmo do qual Deus não exclui nenhuma alma de boa vontade, convidando-a até para tal; heroísmo para o qual também nós, se queremos ser verdadeiramente generosos, nos devemos preparar por meio da aceitação amorosa de tudo o que nos faz sofrer.

Colóquio – “Ó Senhor, nós quereríamos servi-Vos, sim, e dar-Vos gosto, mas sem sofrer nada! Todavia muito mais Vos devemos estar gratos quando, no Vosso serviço, sofremos qualquer coisa a imitação Vossa e por Vosso amor.

“O sofrimento é tão precioso e nobre que Vós, ó Verbo, encontrando-Vos no seio do eterno Pai, superabundando em todas as riquezas e delícias do Paraíso, já que não estáveis revestido com a estola do sofrimento, viestes ao mundo para a poderdes ter. Vós sois Deus e não Vos podíeis enganar; por isso, como escolhestes o sofrimento puro, assim também eu o quero escolher por Vosso amor. O que agora, portanto, Vos peço, ó Senhor, é que me concedais poder experimentar um sofrimento puro que não esteja mesclado de nenhuma consolação e, pela confiança que tenho na Vossa bondade, espero que me fareis esta graça antes de morrer.

“Mas para tirar proveito das tribulações, ensinai-me a aceitá-las conformando-me em tudo com a Vossa vontade, de outro modo ser-me-iam muito pesadas e insuportáveis. Quando, ao contrário, a alma se abandona toda nos braços da Vossa vontade, então encontra conforto no meio das tristezas; e se ainda, por algum tempo, Vós a deixais nas trevas, bem depressa a sua tristeza será convertida em gozo, de modo que por nenhuma doçura do mundo a minha alma quisera não ter sofrido.

“Bem-aventurado, feliz e glorioso aquele que sofre por Vosso amor, ó Verbo, porque – ousarei dizê-lo? – enquanto estamos na terra tem mais valor o padecer por Vós do que possuir-Vos, mas se sofremos por Vosso amor, admitir-nos-eis na vida eterna onde não poderemos jamais perder-Vos” (Sta. M. Madalena de Pazzi).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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