Santa Agatha († 252)

Santa Agatha é uma das mais gloriosas heroínas da Igreja primitiva, cuja intercessão é invocada diariamente no Cânon da santa Missa. Natural de Sicília, pertenceu a uma das famílias mais nobres do país. De pouca idade ainda, Agatha consagrou-se a Deus pelo voto da castidade. O governador Quintiano, tendo tido notícia da formosura e grande riqueza de Agatha, acusada do crime de pertencer à religião cristã, mandou-lhe ordem de prisão. Agatha, vendo-se nas mãos dos perseguidores, exclamou: “Jesus Cristo, Senhor de todas as coisas, vós vedes o meu coração e lhe conheceis o desejo. Tomai posse de mim e de tudo que me pertence. Vós sois o Pastor, meu Deus; eu sou vossa ovelha. Fazei que seja digna de vencer o demônio. Levada à presença do governador, este, vendo sua extraordinária beleza, ficou tomado de violenta paixão pela pobre cristã, à qual se atreveu a importunar com propostas indecorosas. Agatha, indignada, rejeitou suas impertinências desavergonhadas e declarou preferir morrer a macular seu nome de cristã. Quintiano aparentemente desistiu do seu plano diabólico, mas, para conseguir seus fins, mandou entregar a donzela a Afrodisia, mulher de fama péssima, na esperança de, na convivência com esta pessoa, Agatha tornar-se mais acessível. Enganou-se. Afrodisia nada conseguiu e depois de um trabalho inútil de trinta dias pediu a Quintiano que afasta-se Agatha de sua casa.

Começou então o martírio da nobre siciliana. Tendo-a citado perante seu tribunal, apostrofou-a com estas palavras: “Não te envergonhas de rebaixar-te à escravidão do cristianismo, quando pertences à nobre família?” Agatha respondeu-lhe: “A servidão de Cristo é liberdade e está acima de todas as riquezas dos reis.” A resposta a esta declaração foram bofetadas tão barbaramente aplicadas, que causaram forte epistaxes. Depois desta e outras brutalidades a santa Mártir foi metida no cárcere com graves ameaças de ser sujeita a torturas maiores, se não se resolvesse a abandonar a religião de Jesus Cristo.

O dia seguinte trouxe a realização. O tirano ordenou que a donzela fosse estendida sobre a catasta, seus membros fossem desconjuntados e o corpo todo queimado com chapas de cobre em brasa e seus peitos atormentados com torqueses de ferro e depois cortados. Referindo-se a esta última brutalidade, Agatha disse ao juiz:

“Não te envergonhas tu, de mutilar na mulher, o que tua mãe te deu para dele tirar alimento”?

Após esta tortura crudelíssima, Agatha foi levada novamente ao cárcere com ordem expressa, para que não lhe fosse administrado tratamento algum, afim de curar suas feridas. Deus, porém, que confunde os planos dos homens, veio em auxílio de sua pobre serva.

Durante a noite apareceu-lhe um venerável ancião que se dizia mandado por Jesus Cristo, para aliviá-la e curá-la. O ancião, que era o Apóstolo S. Pedro, elogiou-a, por causa da sua firmeza e animou-a a continuar impávida no caminho da vitória. A visão desapareceu e Agatha com muita admiração viu curadas todas as suas feridas. Cheia de gratidão entoou cânticos, louvando a misericórdia e bondade de Deus. Os guardas, ouvindo-a cantar, abriram a porta do cárcere e, vendo a santa Mártir completamente curada, fugiram cheios de pavor. As companheiras de prisão de Agatha aconselharam-lhe a fuga, aproveitando ocasião tão propícia para isto. Ela, porém, disse: “Deus me livre, que abandone a arena antes de ter segura em minha mão a palma da vitória.”

Passados quatro dias, foi novamente apresentada ao juiz. Este não pôde deixar de exprimir sua admiração, vendo-a completamente restabelecida. Agatha deu-lhe a explicação: “Vê e reconhece a omnipotência de Deus, a quem eu adoro. Foi ele quem curou minhas feridas e me restituiu os meus peitos. Como podes, pois, exigir de mim, que o abandone? Não- não poderá haver tortura, por mais cruel que seja que me faça separar do meu Deus”. O juiz não se conteve mais. Tremendo de ódio, e fora de si, deu ordem para que Agatha fosse despida e revolvida sobre cacos de vidro e brasas acesas. A santa Mártir sujeitou-se a mais esta ordem bárbara. De repente sentiu-se forte tremor de terra. Uma parede, bem perto de Quintiano, desabou e sepultou os amigos íntimos do juiz. O povo, presenciando isto, disse em altas vozes “Eis o castigo que veio por causa do martírio da nobre donzela. Larga a tua inocente vítima, juiz perverso e sem coração!” Agatha voltou ao cárcere e lá chegada, pôs-se de joelhos e pediu a Deus nestes termos: “Senhor que desde a infância me protegestes, extinguistes em mim o amor ao mundo e me destes a graça de sofrer o martírio, ouvi as preces de vossa serva fiel e aceitai a minha alma.” Deus ouviu a voz de sua filha e recebeu-a em sua glória no ano de 252.

Santa Agatha é invocada pelos cristãos contra o perigo de incêndio.

REFLEXÕES

1. Trinta dias de contínua e calculada tentação não abalaram o ânimo e a virtude de Santa Agatha. Se nós procedêssemos sempre com a mesma prudência, se quiséssemos usar as mesmas armas, com que Santa Agatha alcançou a vitória sobre os inimigos que procuraram a perda de sua alma, também seríamos vencedores. As armas que estão sempre à nossa disposição e devemos manejar com destreza, são a oração, o jejum e a lembrança de Deus. A lembrança que Deus está presente e vê os nossos pensamentos, as nossas obras, é capaz de nos dar conforto na luta e persistência na peleja. “Ninguém daqueles que acreditam na presença de Deus em todo o lugar, correrá perigo de cometer um pecado, nem pensará em praticar um ato pecaminoso, diz S. Basílio. Com Suzanna, tentada por dois juízes, homens de má catadura, dirá também ele, quando o tentador o perseguir: “É melhor cair em vossas mãos, sem que cometa o pecado, do que pecar na presença do Senhor. ” (Dan. 13)

2. Santa Agatha consagrou-se a Deus e em tenra idade fez o voto de castidade. Mais tarde ela fez a experiência, de que Deus não permite tentações que superem as nossas forças. Embora fossem terríveis as tentações a que o demônio e maus homens a sujeitaram, Agatha ficou firme. A esperança no Salvador deu-lhe forças quase sobre-humanas. A fidelidade jurada a Deus era lhe seguro penhor da assistência forte e valente do seu divino Senhor. Feliz o cristão que, como Santa Agatha, se consagrar a Deus e se conservar fiel no cumprimento de sua promessa. Terá a felicidade de não ficar em contato com o vício e seu coração se conservará livre da influência do demônio. Suas mãos, puras que são, pode elevá-las confiadamente ao céu e Deus ouvirá as suas orações. Nos combates tem ele a seu lado aquele, que venceu o mundo. Por ele defendido, guiado e protegido, pode um mundo de inimigos se levantar e ameaçadoramente o atacar, a vitória será certa, a coroa garantida.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.

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