A glória da Santíssima Trindade

Ó Santíssima Trindade que me criastes para a Vossa glória, fazei que eu Vos dê toda a glória de que sou capaz.

1 – A Santíssima Trindade é a raiz e o centro de todos os outros mistérios da nossa santa fé, raiz da qual todos brotam e dependem, centro em torno do qual todos gravitam. Tanto a obra imensa da Criação como a obra amorosa da Redenção são dons da Santíssima Trindade, são uma efusão livre e gratuita da Sua bondade, do Seu amor infinito; e, por outro lado, tudo está ordenado para a glória da Tríade augusta. “Nele – diz S. Paulo – em quem também nós fomos chamados por sorte, sendo predestinados pelo decreto daquele que opera todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade, para servirmos de louvor à sua glória” (Ef. 1, 11 e 12). Imensamente mais que a Criação, a obra da Redenção, que derramou sobre nós os maiores benefícios divinos, serviu, como diz também o Apóstolo, “para fazer brilhar a glória da sua graça” (ib. 6), ou seja, a bondade infinita de Deus. Se as criaturas inanimadas, se o céu e a terra “publicam a glória de Deus” (Sal. 18), porque atestam o Seu poder, sabedoria e beleza infinita, as obras relativas à nossa elevação ao estado sobrenatural cantam a glória da Santíssima Trindade, precisamente porque são a mais gloriosa manifestação da Sua bondade. Bondade tão grande que levou Deus, não por necessidade, mas unicamente por amor, a tornar-nos participantes, a nós Suas pequenas criaturas, de algo do Seu sumo bem, da Sua natureza divina, da Sua felicidade eterna; que O moveu a revelar-nos o mistério da Sua vida trinitária e associar-nos a ela. E tudo isto, não por mérito algum da nossa parte, nõ porque Ele precisasse de nós – Ele que era já infinitamente bem-aventurado, feliz e glorioso em Si mesmo – mas apenas por bondade. Portanto, quem mais do que o homem – que foi revestido por Deu não só de belezas naturais, mas ainda de belezas sobrenaturais que o tornam semelhante a Ele e que o associam à Sua vida divina – deverá chegar a ser “o louvor da Sua glória”?

2 – Pelo simples fato de as obras de Deus serem uma demonstração da Sua onipotência, sabedoria e bondade infinitas, todas redundam para Sua glória, tal como uma obra de arte reverte para glória do artista que a realizou, porque exprime o poder do seu engenho. mas se o homem pode ordenar as suas obras para glória de outro ser superior a ele, isto não pode dar-se com Deus que é o Ser supremo e o sumo bem e que, portanto, há de agir necessariamente para Sua própria glória. Todavia Deus, infinitamente bom, quer glorificar-Se procurando o bem e a felicidade das Suas criaturas. Ele, com efeito, não Se contenta com glorificar-Se em obras belas e grandiosas, mas incapazes, porque inanimadas, de gozar da Sua beleza; mas quer glorificar-Se sobretudo em criaturas que – como os anjos e os homens – tornou capazes de gozar dos Seus dons e que destinou a participar da Sua felicidade eterna. Assim, compreendemos cada vez melhor como é grande a bondade de Deus que quis encontrar a Sua maior glória naquilo que redunda em maior vantagem e honra das Suas criaturas. Por exemplo, nenhuma obra glorifica mais a Santíssima Trindade do que a Incarnação do Verbo, e nenhuma como esta é para nós de tanta utilidade e honra.

Deus, na Sua bondade infinita, quis que a Sua glória coincidisse com o nosso bem, com a nossa felicidade; e nós devemos procurar que o nosso bem e a nossa felicidade coincidam com a glória de Deus, quer dizer, devemos procurar o nosso bem e a nossa felicidade naquelas obras que mais glorificam o Senhor e dão glória ao Seu nome. E enquanto os céus cantam a glória de Deus, nós devemos cantá-la, porque compreendemos ser justo e razoável que toda a nossa vida e todas as nossas obras sejam um hino de glória à Santíssima Trindade que, infinitamente bem-aventurada e gloriosa em Si mesma, quis glorificar-Se em nós, pobres e pequenas criaturas.

Colóquio – “Ó Trindade Santíssima, eu Vos adoro, Vos bendigo, Vos glorifico em todos os Vossos mistérios, unindo-me a todo o amor e a todos os louvores que trocam mutuamente entre Si as Vossas divinas Pessoas. Ofereço-Vos toda a glória que encerrais em Vós mesma, dando-Vos por ela, juntamente com toda a Igreja, graças infinitas: Gratias agimus tibi propter magnam gloriam tuam… Ó meu Deus e meu Pai, como e quanto me regozijo ao ver como o Vosso Filho e o Vosso Espírito Santo Vos amam e Vos louvam desde toda a eternidade com uma mor e um louvor proporcionados à Vossa grandeza! Ó Filho único de Deus, como e quanto exulta a minha alma, ao ver o amor e a glória infinita que recebeis do Vosso Pai e do Vosso Espírito Santo! Ó Espírito Santo, como e quanto rejubila o meu coração ao ver o amor e as bênçãos que Vos são dadas sem cessar pelo Pai e pelo Filho. Ó Santíssima Trindade, que jubilo, que regozijo, que felicidade é para mim saber que estais cheia duma glória indizível, duma bem-aventurança inconcebível e duma infinidade de inumeráveis e incomparáveis tesouros e esplendores!” (S. João Eudes).

Mas que alegria é também para mim saber que Vós, Trindade sacrossanta, já infinitamente gloriosa em Vós mesma, não desdenhais a glória que Vos pode dar este mísero nada, mas que, pelo contrário, me criastes precisamente para a Vossa glória! “Eu, pois, consagro-me e sacrifico-me todo a Vós e se todo o ser criado fosse meu e minhas todas as vidas dos homens e dos anjos, se tivesse em meu poder milhões de mundos, estaria pronto a sacrificar tudo isto em Vossa honra.

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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